sábado, 13 de novembro de 2010

Nova série da Globo vai mostrar clichês das relações amorosas



"Neste momento, em um cruzamento entre a avenida Nossa Senhora de Copacabana e a rua Santa Clara [no Rio], Édipo espera que o sinal abra para que ele possa continuar a contar sua história. Os mitos estão entre nós." E é para os mitos que o dono da frase, o diretor Luiz Fernando Carvalho, 50, aponta sua câmera na série "Afinal, O que Querem as Mulheres?", seu próximo trabalho na Globo com estreia prevista para novembro.

Embora o discurso seja refinado, como o de obras anteriores do diretor, há uma tradução que permite ver os mitos como... clichês. É o que ele chama de "repetição de padrõezinhos" o mote da nova série do autor de projetos considerados ousados para os (clichês) padrões globais. "Eu não posso ter vergonha do clichê. Tenho de amá-lo", diz ele. Para este amor acontecer (e o amor entre os próprios personagens), Carvalho cria "um diálogo com o próprio melodrama, com o vocabulário oficial".

Trata-se de aceitar o folhetim, mas ter consciência dele. "Não produzo um clichê de forma glamourosa, inconsequente. Mostro que ele é uma ferida perigosa no tecido da linguagem, e não só entre relações amorosas". E continua: "A empresa [Globo] sempre me pede para que eu volte às novelas. Não tenho nada contra. Minha crítica é ao que se transformaram hoje, enquanto estruturas de produção. Não precisam de um diretor, um criador, e sim de produtores".

UM JAZZ "Afinal..." deve mostrar um criador diante de um clichê. Carvalho se apropria da matéria-prima das novelas e pretende moldá-la numa "linguagem eletrizante e improvisada como um jazz". A trama, de fato, é próxima das sinopses de novela. Com texto original (criado em parceria com João Paulo Cuenca, Michel Melamed e Cecilia Gianetti), conta a história de André Newmann (Melamed), que sofre pela separação com Lívia (Paola Oliveira). André escreve um livro a partir da pergunta freudiana (a mesma que dá título à série de Carvalho: "Afinal, O que Querem as Mulheres?").

Sua obra vira best-seller e tem os direitos adquiridos para virar seriado de TV, estrelado por Rodrigo Santoro. A brincadeira de metalinguagem se estende ao próprio ator: tanto em "Afinal...", a que vai ao ar na Globo e a que é "criada" dentro da série "real" de Carvalho, Santoro interpreta a si mesmo. O PATÉTICO Ter o clichê como mote, no entanto, não implica representá-lo como novela, embora tenha beijos em "slow motion" e trilha sonora que inclui hit de fossa ("A Whiter Shade of Pale") para compor o clichê, sem escrachá-lo. "Sempre trabalho esses contrastes entre o espetáculo e a vida. Gosto de deixar o espectador no limiar, entre uma representação e uma experiência real, a vida", diz. Em "Afinal...", a consciência da representação não vai se dar por cenários pintados, como em "Hoje É Dia de Maria", que o diretor assinou em 2005, ou com os ares operísticos de "Os Maias" (2001). Desta vez, vai usar o riso para "parafrasear o vocabulário oficial". "Você está numa cena de amor e, de repente, cai na risada. E você pensa: É uma cena de amor, e eu estou rindo aqui. Que patético", explica. "O riso é a maior perversão que existe."


Fonte: Confira

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